Mãe fala sobre as dificuldades enfrentadas pelo filho e o desafio em conseguir o diagnóstico
INDAIAL - Desde os quatro anos de idade Vinícius Doerner, hoje com sete anos, sofre com as consequências provocadas pela Síndrome de Irlen. No entanto, a condição demorou a ser determinada e exigiu muita persistência dos pais durante um caminho de desafios, incertezas e diagnósticos incorretos.
A mãe de Vinícius, Adriana Cecília Ewald Doerner, de 32 anos, conta que o menino sempre teve dificuldades de aprendizagem e ela era constantemente chamada à escola. Nos últimos três anos, uma verdadeira corrida a especialistas buscava descobrir qual era a condição que dificultava o desenvolvimento do menino, que apesar de calmo e inteligente, não conseguia se focar e aprender a ler.
O primeiro diagnóstico foi o de Asperger (leve autismo), no entanto, Vinícius sempre foi muito sociável e nem a família nem a escola concordaram que ele possuísse a condição. Um segundo especialista diagnosticou o menino como disléxico. "Em conversa com uma mãe que é psicóloga, cuja filha também tinha certo atraso de aprendizagem, ela me disse que a menina não tinha dislexia, então pensei: o meu também não tem. Fui para a internet pesquisar o que poderia ser confundido com dislexia e encontrei a Síndrome de Irlen".
A partir de então começou um novo desafio, pois há um único hospital que atende casos de Irlen no Brasil; ele fica em Belo Horizonte. No entanto, existem profissionais capacitados para aplicar testes que indiquem a condição, os screeners, e a psicopedagoga de Vinícius é uma delas. "Ela pediu que o levasse no mesmo dia e não deu outra. Liguei para marcar uma consulta em Belo Horizonte, demorou para conseguir por ser o único especializado e possuírem muitos casos".
A especialista em Irlen que atendeu Vinícius e deu o diagnóstico conclusivo é a doutora Marcia Reis Guimarães. Isso ocorreu há pouco mais de dois meses e promete trazer muitas mudanças. "Os óculos que vieram dos Estados Unidos chegaram no dia 11 e ele está no período de adaptação, que pode levar até quatro meses".
Entenda a Síndrome de Irlen
Mas, afinal, o que é esta síndrome? Descoberta há pouco mais de 25 anos, porém, com trabalho desenvolvido no Brasil há menos de uma década, a Síndrome de Irlen se caracteriza por uma alteração na percepção visual, causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz que produz alterações no córtex visual e déficits na leitura. "O Vinícius só conseguiu explicar o que era depois que fez o teste. Sem o filtro a médica perguntou para ele como estava enxergando o texto, ele respondeu que as letras estavam todas se mexendo. Depois de aplicados os filtros, ele disse que o texto estava parado e conseguiu ver", conta Adriana.
Geralmente, as dificuldades dos portadores de Irlen se manifestam através de queixas de brilho ou reflexo do papel branco, que compete com o texto impresso e desvia a atenção do conteúdo a ser lido. Luzes fluorescentes são particularmente desconfortáveis, mas até mesmo a luz solar direta, faróis de carros e postes à noite causam incomodo. Dentre os sintomas também estão a desorganização espacial (noção de direita, esquerda, emcima e embaixo) e desconforto com o movimento e com figuras complexas e de alto contraste, como as zebradas.
Engana-se quem pensa que a condição é algo simples, pois a sensibilidade extrema a certas ondas de luz exige uma atividade muito maior do cérebro para tentar corrigir a perda de foco, distorções e inversões de letras. Causando desde o desconforto nos olhos até cansaço, distração, sonolência, dores de cabeça, enxaqueca, hiperatividade, irritabilidade, enjoo e fotofobia. "O Vinícius fica muito cansado e certas vezes irritado, pois ele quer fazer as coisas, quer aprender a ler, mas não estava conseguindo". Estes sintomas são confundidos com outras doenças e síndromes, gerando diagnósticos incorretos. Até mesmo quando a pessoa consegue identificar a sensibilidade à luz, o diagnóstico de Irlen não é algo simples. "O Vinícius reclamava da sensibilidade, levamos a três diferentes oftalmologistas, porém, não há problema com a acuidade visual e os testes não apontavam problemas".
Medidas
Os óculos que irão ajudar Vinícius foram produzidos nos Estados Unidos e possuem lentes coloridas, que são filtros responsáveis por quebrar (filtrar) o excesso de luz e permitir que a criança, ou adulto portador da síndrome, enxergue normalmente. Cada caso necessita de filtros diferenciados, por isso, a importância dos testes.
No caso de Vinícius também foram tomadas outras medidas, como a troca das lâmpadas fluorescentes por amarelas e colocação de cortinas mais escuras. "Fizemos isso em casa e a escola também está nos apoiando imensamente e adotou as medidas. Além disso, é preciso que ele sente na primeira fileira e que a professora (assim como nós), fale de frente para ele. Tudo isso tem ajudado bastante".
Vinícius está cursando novamente o primeiro ano, pois não está alfabetizado por conta das dificuldades impostas pela síndrome. Ele também continuará com o apoio da psicopedagoga para que possa desenvolver as habilidades de leitura mais rapidamente. "Os óculos irão transformar a vida dele completamente", conta Adriana.
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