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Uma vida dedicada a botânica

  • Filipe Adriano -

Considerado o patrono dos ecologistas catarinenses padre Raulino Reitz foi um dos idealizadores da implantação da vitória-régia no município de Indaial

INDAIAL - Padre, botânico e apaixonado pelo seu trabalho. Raulino Reitz, reconhecido hoje como Patrono dos Ecologistas Catarinenses, dedicou uma vida aos estudos botânicos, zoológicos e naturais em benefício da comunidade e da ciência.

Este ano, comemora-se o centenário do seu nascimento e homenagens serão realizadas com o intuito de manter viva sua memória e seu legado em Indaial. Afina, Reitz foi peça fundamental para a implementação de um dos maiores símbolos do município: a vitória-régia, que há 43 anos vem embelezando a Praça da Prefeitura.

A jornada foi dura para a aclimatação desta planta no município. Em parceria com o preservacionista Valdemiro Nasato (1936 - 2003), a dupla de sucesso, como são chamados hoje, iniciou diversos estudos e testes até conseguir que a planta nativa da região amazônica se desenvolvesse aqui no município, de acordo com informações cedidas pelo Arquivo Histórico Municipal Theobaldo Costa Jamundá.

De 1968 até 1976, as tentativas para que a planta sobrevivesse ao frio foram diversas e até sistemas de aquecimento do tanque foram desenvolvidos para que a experiência desse certo, porém a dupla não obteve êxito. O botânico até pensou em desistir, mas com a persistência do seu amigo Nasato, eles ainda tentaram mais uma vez.

Nesta época, padre Reitz era diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e enviou sementes da vitória-régia de lá. Todas as outras tentativas anteriores foram feitas com sementes vindas diretamente da Amazônia. Nessa última tentativa, foram utilizadas estufas de polietileno ao invés dos tanques de água aquecida. Dessa forma, todo o ambiente ficou aquecido. Além disso, outros tratamentos especiais foram realizados para que dessa vez a experiência desse certo.

Em 8 de fevereiro de 1976, a dupla obteve êxito e a vitória-régia foi finalmente aclimatada em Indaial. "Graças a Deus, valeu o sacrifício e a dedicação", destaca Nasato no documento disponibilizado pelo Arquivo Histórico, o qual foi escrito depois, em 1997. No ano seguinte, a planta foi colocada em exposição pública pela primeira vez, sendo instalada em um tanque na praça João Hennigs Filho, em frente à Prefeitura. Na época, Victor Petters era o prefeito.

Desde então, a vitória-régia se tornou um dos símbolos da cidade. Em 8 de fevereiro de 2002 foi inaugurado neste local o Monumento à Vitória-Régia.



Foto: Filipe Adriano/



Padre dos gravatás 

Reitz também é conhecido pelo cognome Padre dos Gravatás. A expressão deu-se em razão do seu estudo de todas as bromélias. Isso iniciou entre 1949 e 1951, quando o padre colaborou ativamente nas pesquisas fitossanitárias realizadas em Santa Catarina. Aqui se instalou o Instituto de Malariologia para erradicar a malária no Sul do país.  

Neste trabalho, padre Raulino iniciou grande amizade com o pintor e desenhista gaúcho Domingos Fossari, e o cientista Roberto Miguel Klein, que daí em diante o acompanharam em todos os trabalhos.

Fruto destas pesquisas, em 1951 nasceu o livro "Bromeliáceas e a malária - Bromélia Endêmica". O Governo havia prometido que faria a publicação do impresso, porém a resposta na época não foi animadora: -Não há verbas. Em 1955 tentou recursos na Alemanha: não conseguiu.

Mas Reitz não desistiu da publicação e após 29 anos de espera, em 1984, foi realizada com recursos do próprio. São 808 páginas, 140 estampas e 106 mapas de um estudo árduo e de dedicação.

Hoje também existe um bromeliário que leva o nome de Raulino Reitz, o qual fica localizado na Fundalação Indaialense de Cultura, o qual foi ajardinado por Nasato, que em demonstração de seu carinho e amizade pelo padre, solicitou ao então prefeito Victor Petters que lhe autorizasse a colocar este nome no espaço.


História em Santa Catarina 

Conforme documentos do Arquivo Histórico, Reitz, estimulado pelos dois irmãos, ingressou no Seminário de Azambuja, na cidade de Brusque, em 1932. Até 1936, permaneceu lá cursando o Ginásio e o Clássico. Seu primeiro contato com a botânica foi em 1938, após ter ido para o Seminário Central, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para completar os cursos seminarísticos de Filosofia e Teologia.

Na época conheceu o padre Balduíno Rambo SJ, notável cientista e botânico, que lhe deu as primeiras instruções e o incentivou para os estudos botânicos. A partir daí, Reitz começou a coletar plantas que depois passariam a integrar o acervo do Herbário Barbosa Rodrigues, que hoje está localizado em Itajaí.

Em 1943, Reitz recebeu a ordenação feita pelo arcebispo Dom Joaquim Domingues Oliveira, na Catedral de Florianópolis, mas não desempenhou as funções de pároco e foi nomeado vigário paroquial. Passou 24 anos de seu ministério no Seminário Menor Metropolipano de Azambuja (1947 a 1971) onde desempenhou funções de diretor de ensino e professor.

Em 1946, Reitz já somava 1500 plantas herborizadas. As coletas de Reitz renderam bons frutos e o Projeto Flora, do 2° Plano Nacional de Desenvolvimento, foi todo calcado nestas pesquisas.

Depois em 1948, nasceu a revista botânica Sellowia, que rendeu 38 volumes, e mais de seis mil páginas, o livro "Bromeliáceas e a malária - Bromélia Endêmica" e sua enciclopédia de botânica, única no gênero no Brasil "A Flora Ilustrada Catarinense". A publicação alcançou 149 volumes, 12.489 páginas, 2.760 estampas e 3333 espécies de plantas.

Em Santa Catarina (SC), também criou a Fundação de Amparo à Tecnologia e Meio Ambiente (Fatma). Escreveu dois livros em colaboração com ex-alunos. Idealizou e promoveu as atividades de criação das Estações Escológicas dos Carijós (Ilha de SC), dos Timbés (Timbé do Sul e Meleiro), Babitonga (Garuva, Joinville, Arquari e São Francisco) e o Parque Botânico do Morro do Baú (Ilhota).

Como botânico, padre Raulino coletou e herborizou 28.769 plantas. Descobriu para a ciência cerca de 350 espécies novas e descreveu seis gêneros de plantas. Percorreu mais de um milhão de quilômetros em 953 excursões botânicas durante 50 anos. Merecidamente ele é reconhecido como Patrono dos Ecologistas Catarinenses.


Homenagem 

No dia 22 de setembro, a Fundação Indaialense de Cultura promoverá um evento em celebração ao Centenário de Nascimento do Padre Raulino Reitz (19/09/1919). 

Às 8h, na Paróquia Santa Inês (rua Marechal Floriano Peixoto, 362, Centro), haverá uma Missa Festiva com apresentação cultural do Coral da FIC. Na sequência, na área externa da Paróquia, na Praça Municipal Valdemiro Nasato, diversas atrações culturais ocorrerão das 9 às 12h. Na programação estão apresentações da Banda Municipal Werner Pabst e do Grupo de Dança da Terceira Idade Alte Freunde, exposição fotográfica Vitória-Régia em Indaial, Feira de Artesanato e Biblioteca Móvel.

Ainda a comunidade pode prestigiar no Museu Ferroviário a exposição O Padre dos Gravatás e Patrono da Ecologia Catarinense - Uma parceria de sucesso com o preservacionista Valdemiro Nasato" até o dia 27 de setembro.


Exposição aberta no Museu Ferroviário. Foto: FIC/






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