No quilômetro 68, mais de 500 veículos de carga estão estacionados às margens da rodovia e em pátios
INDAIAL - Em Indaial, um grupo de caminhoneiros aborda todos os veículos de carga e os convida a participar da paralisação que tomou conta da classe em todo o país. Em 17 dias, o valor dos combustíveis foi elevado ao menos 11 vezes. A política de reajustes da Petrobras, adotada em 3 de julho do ano passado transformou-se em uma situação considerada insustentável pela classe.
São diversos os trechos que registram pontos de greve. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, Na BR 470, há paralizações no quilômetro 90, em Ascurra, em Apiúna e também em Navegantes, Gaspar, Pouso Redondo, Campos Novos e Curitibanos (relatório emitido às 18h de quarta-feira, dia 23). Mas, certamente o ponto mais icônico da paralisação na região está no quilômetro 68, próximo à Havan em Indaial. Lá, motoristas afirmam estarem estacionados às margens da rodovia e nos pátios ao menos 500 veículos de carga. Os motoristas começaram a parar no fim da tarde de segunda-feira, dia 21. Até o fechamento desta reportagem, ônibus e carros de passeio tinham passagem livre, mas os caminhoneiros eram abordados para que aderissem ao movimento.
"O combustível tem aumentado abusivamente em poucos dias, não há como trabalhar. Eu pego um frete de Pernambuco até aqui, se algo acontece no trajeto, como estourar um pneu, acabo tendo que tirar do bolso para pagar. É preciso parar, porque senão daqui a pouco não teremos mais condições de rodar", explica o pernambucano Paulo César de Lima, que está parado em Indaial desde segunda-feira.
O indaialense Elcio Fiedler ressalta que a paralisação é pacífica, mas necessária. "Posso dar um exemplo a vocês, em menos de um ano, em uma viagem de Indaial a São Paulo, o custo com o combustível aumento R$ 600,00. Como é possível que eu feche o contrato de um frete se durante a viagem o combustível aumenta?". O último destes aumentos foi anunciado pela estatal na segunda-feira, após o início da paralisação. "Parece até um deboche. Peço à população que nos apoie, se conseguirmos resultado será bom para todos, pois a hora que esses aumentos forem repassados para o preço dos produtos, todos irão sentir", argumenta.
Os profissionais estão dispostos a continuar com o movimento até que o resultado seja alcançado. Para Fabiano Nascimento, de Florianópolis, a ação da classe ainda é uma resposta branda em relação às atitudes do governo. "Nós anunciamos a paralisação e durante ela, o governo vai lá e nos dá um tapa na cara aumentando não só o preço do diesel, mas do combustível em geral. Talvez passe na cabeça de quem está em casa, sentado no sofá, que isso não tenha nada a ver com você, mas tem. Somos nós que colocamos comida na mesa da maioria da população. Precisamos lidar com um monte de regras e taxas e estamos pagando muito mais do que podemos. A corda estoura do lado mais fraco e, a este ponto, somos nós, os caminhoneiros. Se continuarmos pagando por tudo, chegará um momento em que não teremos sequer dinheiro para colocar diesel para voltar para casa".
Desabastecimento em postos e supermercados
Com 81 pontos de paralisação em Santa Catarina nesta manhã, o quarto dia de paralisação dos caminhoneiros é marcado pela falta de combustível em várias cidades. Nesta quinta-feira, dia 24, diversos postos de gasolina registravam estoque baixo ou a falta de combustível. O gerente do posto Marechal, localizado em Indaial, Elvis Schmitz, diz que o movimento de clientes aumentou muito no decorrer da quarta-feira. "Pela manhã abrimos com estoque de 24 mil litros de gasolina comum e oito mil litros de aditivada, mas a partir das 15h o movimento não para, então não sei se teremos combustível até amanhã. Nosso caminhão está parado no bloqueio em Ascurra", revela.
Supermercados também estão registrando problemas, já que os caminhoneiros são responsáveis pelo abastecimento de 85% das demandas de produtos de alimentação, higiene e limpeza. A Associação Catarinense de Supermercados (ACATS) informou que empresas filiadas reportaram problemas de abastecimento de produtos rotineiramente entregues pelos fornecedores. Todas as regiões de Santa Catarina pesquisadas relataram problemas sérios de abastecimento, em especial com relação a mercadorias como frutas, legumes e verduras, produtos perecíveis, carnes in natura e demais categorias de produtos resfriados como laticínios e derivados de leite.
A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) ingressou nesta quarta-feira com pedido de liminar para impedir o bloqueio de caminhões que transportam produtos de indústrias associadas à entidade, com especial ênfase às cargas de produtos perecíveis, como carnes e leite, além de produtos essenciais como remédios.
Temer pede trégua
O presidente Michel Temer pediu uma trégua de dois a três dias aos caminhoneiros, porém não houve acordo após a reunião com representantes dos caminhoneiros, com ministros da Casa Civil, Transportes e Secretaria de Governo. De acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, um novo encontro ficou agendado para esta quinta-feira. A justificativa é de que o governo não apresentou propostas que levem ao fim da paralisação da categoria.
Pela nova metodologia adotada pela Petrobras, os reajustes acontecem com maior frequência, inclusive diariamente, refletindo as variações do petróleo e derivados no mercado internacional, e também do dólar. Na terça-feira, após uma reunião com os ministros da Fazenda, Eduardo Guardia e de Minas e Energia, Moreira Franco, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou que a política de reajustes dos preços de combustíveis da empresa não será alterada.
Greve não terá fim
A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) informou na manhã desta quinta-feira (24) que o movimento de paralisação da categoria só terminará quando a redução de impostos dos combustíveis for publicada no Diário Oficial da União (DOU). A informação foi divulgada pela assessoria de imprensa da entidade que mencionou que o movimento "não acredita mais nas promessas do governo" e que, por isso, a paralisação só terminará quando a decisão "virar lei".
Movimento toma corpo
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Ascurra/Apiúna manifestou apoio ao movimento. "Em respeito aos caminhoneiros estaremos aderindo às manifestações. Queremos nos colocar à disposição e convidar a todas as empresas, comércios e prestadores de serviço, para nos unirmos em favor das nossas reivindicações. Para tanto convidamos a todos, empresários e população em geral, a fechar os nossos estabelecimentos às 15h desta tarde, dia 24, e nos reunirmos no Posto Ferrari em Ascurra. Lembrando a todos que este é um convite por parte da CDL e não temos como garantir e nem obrigar a adesão a este movimento", divulgou a entidade.
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