Ação envolveu Exército, PRF, Defesa Civil e Polícia Militar. Alguns caminhoneiros ainda permanecem no local

INDAIAL - Para alguns sensação de derrota, para outros, de alívio. Assim era o clima que permeava os instantes seguintes à ação de desmobilização do ponto de paralisação dos caminhoneiros que permanecia ao longo do quilômetro 68 da BR 470, em frente à Havan, em Indaial, desde a segunda-feira, dia 21.

Eram por volta das 10 horas da manhã quando os militares chegaram ao local e conversaram com os manifestantes, não houve nenhum tipo de enfrentamento e os que desejavam, puderam seguir viagem. Após as negociações, Exército e PRF seguiram em comboio para os demais pontos de paralisação, enquanto a Defesa Civil e a Polícia Militar permaneceram no local por mais tempo.

"Foi uma operação muito pacífica, porque a grande maioria dos caminhoneiros querem sair", explica o comandante da 1º Companhia da Guarnição Especial de Indaial, capitão Leandro dos Santos. De acordo com ele, a operação ocorrerá de forma contínua, todos os dias, até que a normalidade seja restabelecida. "Este comboio seguirá até a BR 282, para os que quiserem seguir em direção ao Oeste, a recomendação é que sigam com ele. Da mesma forma, haverá o caminho inverso até o litoral".

Ainda conforme o capitão dos Santos, muitos caminhoneiros estão querendo seguir viagem, mas os veículos se encontram impedidos por outros caminhões que foram deixados na paralisação por motoristas que não permaneceram lá. "É importante que estes saibam que a operação será contínua, portanto, podem vir retirar seus veículos e permitir passagem aos que queiram seguir". Ações da mesma espécie foram realizadas nas cidades de Ascurra e Apiúna na quarta-feira. Já os que desejam continuar no local, precisarão respeitar a faixa limite de 30 metros do acostamento para estacionar seus veículo. Caso contrário serão multados.

Combustível para Indaial

A Defesa Civil de Indaial também esteve no local, de acordo com o diretor do Procon da cidade, Aetius Timar Hennings, a estrutura que havia sido disponibilizada aos manifestantes também começa a ser desmontada. "Com o desmantelamento da paralisação, a estrutura também começa a ser retirada", avalia. Ele comenta ainda que o combustível deve começar a chegar aos postos da cidade entre hoje e amanhã. "Não é possível ter a certeza, pois dependerá dos caminhões que sairão das distribuidoras e o tempo em que conseguirão chegar até nós". Ele acredita que a situação possa se normalizar até o fim de semana.

Seguindo viagem

Gilmar é um dos caminhoneiros que estava deixando o estacionamento da Havan. Ele explica que é de Blumenau e havia deixado o caminhão no local desde terça-feira, dia 22, mas foi para casa. Com a notícia da desmobilização, retornou para seguir viagem. "Vou para Lages entregar a carga e completar o trabalho", explica.

O movimento resiste

Profundamente emocionado, Junior, um dos caminhoneiros que optou por permanecer no local diz que foram dez dias de muita luta. "Nada foi fácil, havia dias em que eu levantava as cinco da manhã e ia dormir depois da meia-noite. Como sei cozinhar, fazia comida aqui para o pessoal, meus pés estão doendo de tanto permanecer de pé, mas eu não deixaria nenhum deles passar necessidade. Só tenho a agradecer a forma como a comunidade nos abraçou, a ajuda que eles nos deram através de doações, de apoio, de passeatas".

Com lágrimas nos olhos, ele lembra de um senhor que chegou até eles trazendo linguiças. "Ele disse: isso foi tudo que eu consegui comprar com o meu dinheiro. Imagina, ele também deveria estar com fome e veio aqui nos apoiar, isso nos emociona".

Para Junior, o enfraquecimento do movimento representa uma derrota para toda a população, que agora estará novamente nas mãos do governo. Enquanto conversava com nossa reportagem, um outro caminhoneiro que não quis se identificar se aproximou e disse: "o povo não lutou pelo pão, mas sim pelo litro de gasolina".

Pessoas que estavam ao redor apoiara a declaração. "A culpa é de quem correu para os postos desesperado para abastecer", diz um homem. Também emocionada, uma mulher pediu que os caminhoneiros resistam por mais tempo. "Eles atenderam as reivindicações de vocês, mas para nós ainda não houve mudança. Estamos apoiando vocês e permaneceremos". Houve também manifestações em favor de uma intervenção militar.

Por fim, Junior agradeceu o apoio da população e disse que estacionará seu caminhão no pátio da Havan, uma vez que há permissão do proprietário. Assim, não será multado e não abandonará o movimento, ao menos até que todo o ele seja dissipado. Junior disse ainda que os caminhoneiros doarão as mercadorias que estão nos veículos para pessoas necessitadas. Ele convida também, a quem queira se juntar aos manifestantes que resistirão por mais dias, para irem ao local.

De forma geral, o movimento dos caminhoneiros permanece, mas afora com bem menos força. Há a possibilidade de que novas manifestações sejam realizadas em Indaial e região.

10 dias

A paralisação dos caminhoneiros chegou ao 10º dia tendo como reflexos o desabastecimento total dos postos de combustíveis, algumas empresas paradas, muitas notícias falsas circulando nas redes sociais e pelo WhatsApp e manifestações populares por um Brasil melhor. Nos últimos dois dias, cresciam os depoimentos de pessoas que estavam parados nos pontos de paralisação, mas queriam seguir viagem após o acordo firmado com o governo. Na manhã de quarta-feira, nossa redação chegou a receber a denúncia de uma empresária timboense dando conta de que o filho havia sido coagido por homens armados com barras de ferro a se juntar à paralisação. Tudo acabou bem com a chegada dos militares.

Agora, a esperança dos que apoiam a continuidade da paralisação, é de que a população apoie ainda mais o movimento.