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Tradição

Nascido no berço da ferraria

  • Janaina Possamai - Assumiu a oficina que pertencia ao pai há cinco anos

Tarcísio Fuzinato é um dos poucos ferreiros artesanais que restaram em toda a região

ASCURRA - Forjar o metal, moldá-lo em sua forma não líquida, produzir ferramentas, armas, utensílios e mais do que isso, produzir inovação. Este é o trabalho do ferreiro, um profissional que desempenha papel fundamental na história da humanidade, cujas habilidades foram requisitadas por reis, fazendeiros, agricultores e muitos outros que utilizaram o resultado desta arte - uma junção de força e habilidade. Infelizmente, assim como muitas profissões, esta está ameaçada pelos arbítrios da modernidade. Entretanto, tal qual a resistência do metal, a arte milenar recusa-se a desaparecer, amparada na tradição familiar e na vontade de manter viva a memória e a qualidade das peças produzidas de forma artesanal.

Tarcísio Fuzinato, 42 anos, cresceu às voltas na ferraria do pai, aprendendo a profissão que há cinco gerações mantém a família. Oriundos da Itália, da cidade de Trento, trouxeram na mala a habilidade para moldar o metal. "Tinha sete anos quando meu pai aproximava um caixote da bigorna, dava uma marreta para mim e outra para meu irmão e assim passávamos o dia, batendo marreta", lembra.

A vida da família foi de muita luta, para criar os seis filhos, dona Regina e o marido trabalhavam muito. "Por cinquenta anos bati marreta aqui nesta ferraria. Fazíamos o carvão em casa mesmo, porque para comprar era muito caro". Por conta do auxílio necessário ao pai, Tarcísio e o irmão não puderam concluir os estudos, algo que está fazendo agora, prestes a se formar no ensino fundamental através do ensino supletivo.

Quando adulto, Tarcísio resolveu trabalhar com outras atividades, mas há cinco anos, após a morte do pai, assumiu a Ferraria Fuzina e, juntamente com o irmão, Johnny, deram sequência à tradição familiar. São várias as peças produzidas por eles, desde o segmento agrícola, industrial e de construção Civil. "Graças a Deus, nunca tenho peças em estoque".

A quantidade de peças e de horas de trabalho dependem bastante da demanda. Ele conta que já chegou a ficar até às 2h da madrugada trabalhando, para dar conta dos pedidos. Os artigos mais vendidos são os do segmento agrícola: que é foice, facão, enxada, machado, enxadões, rastelo, marreta. A maior parte dos clientes é da própria região, mas há também os que vem de longe. "Tenho 14 clientes (empresas) fixos".

Atualmente, Tarcísio é um dos poucos ferreiros artesanais que restaram. "Há dois anos atrás éramos cinco aqui na região, hoje estamos em dois, eu aqui e um em Laurentino". Apesar de ameaçada, a profissão vê uma esperança. A filha dele, Ane, prestes a completar 17 anos, já ajuda o pai na oficina, muito na parte administrativa, como confecção de notas e pedidos, mas também já está aprendendo a arte familiar e confecciona as peças mais simples. "Gosto de fazer faças, também ajudo meu pai no tempero das foices e corte de peças no disco, as coisas mais simples", conta a jovem aprendiz. O pai ressalta que não quer que a filha interrompa os estudos de maneira nenhuma, também diz que não força nada a ela. "Aos poucos", define. O outro filho, mais novo, ainda não se interessa muito pela ferraria, mas aos poucos começa também a ajudar.

Inovação e qualidade

Fuzinato não quer fugir das origens e afasta a ideia de perder a originalidade das peças, contudo, planeja ampliar o local de trabalho e também passar a produzir novas peças. "Estamos pensando em algo bastante artesanal: espadas medievais", adianta. Ele ressalta que o principal diferencial de sua oficina é a qualidade das peças que produz, segundo ele, não chegam a apresentar sequer um por cento de quebra. "Fazer a peça em si é relativamente fácil, até chegar ao ponto de dar o choque térmico no óleo. Mas daí para frente é que está o segredo, é aí que você separa um bom de um mau profissional", ensina.

O processo

Tarcísio explica que quase todas peças passam pelo mesmo processo. São aquecidas, forjadas, depois passam pelo esmerilho, rebolo e é novamente aquecida a 600 graus, em seguida sofre um choque térmico no óleo queimado, passa novamente pelo esmerilho para retirar qualquer impureza que possa ter ficado e, na finalização, passa novamente pelo fogo, no chamado processo de revenimento. "É aí você vê a cor do aço, se está bom ou ruim, é neste momento que é revelado o bom ferreiro".


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