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Cuidados Paliativos que resume em “humanização”

  • FOTO/ARQUIVO JMV -

“O Dia Mundial de Cuidados Paliativos é uma data unificada na qual comemora-se e apoia-se os Cuidados Paliativos em todo o mundo. Seu propósito é discutir temas relacionados às melhorias voltadas aos Cuidados Paliativos, refletindo assim, em um melhor cuidado com o paciente, familiares e rede de apoio”. As colocações são do gerente médico da Redeh e médico rotineiro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto do Hospital e Maternidade Oase, Gustavo Henz (CRM-SC 23654, RQE 20462).

Em entrevista à redação do Jornal do Médio Vale (JMV), Henz fala sobre os principais objetivos do Dia Mundial de Cuidados Paliativos. “Anualmente são escolhidos temas pela WHPCA (World Hospiceand Palliative Care Alliance) a fim de aumentar as discussões técnicas e políticas públicas em torno dos Cuidados Paliativos. A data é sempre o segundo sábado do mês de outubro - neste ano, dia 14 de outubro. O slogan do ano de 2023 é “Comunidades Compassivas – juntos pelos Cuidados Paliativos”. O tema busca aumentar a visibilidade sobre comunidades que apresentam pacientes com doenças avançadas e em fase final de vida em risco aumentado de sofrimento, principalmente por vulnerabilidade social e adversidades no acesso à saúde”.

  

Questionado sobre quais são algumas das principais questões ou desafios que os Cuidados Paliativos enfrentam globalmente, o profissional observa que “hoje, pensando em cenário nacional, sofremos um delay comparativamente à América do Norte e Europa quando o assunto é: políticas públicas em Cuidados Paliativos, disponibilidade de opióide, equipe multiprofissional qualificada e qualidade na morte. O Brasil hoje ocupa uma das piores posições do ranking de qualidade de morte no mundo, ocupando a posição 79 de 80 países avaliados, sendo considerado assim, um dos piores lugares para se morrer (Finkelstein, 2022). Pela escassez de acesso à serviços em Cuidados Paliativos, grande parcela da população tem probabilidade elevada de evoluir à morte com dor e sofrimento. Creio que, hoje, o maior desafio seja a conscientização da população e dos próprios profissionais em Saúde sobre a importância e necessidade dos Cuidados Paliativos como parte integral no cuidado em saúde, principalmente na Atenção Primária em Saúde – onde, tudo se inicia. Precisamos nos unir com um objetivo comum: qualidade em saúde”.

Sobre os benefícios dos Cuidados Paliativos para pacientes e suas famílias e como os Cuidados Paliativos contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes com doenças graves, Henz relata que “define-se Cuidados Paliativos, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002), como: “uma abordagem que promove a qualidade de vida do paciente e seus familiares que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção do alívio e do sofrimento, da identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”. (Brasil, 2018). Dessa forma, o cuidado é centrado em todos que participam do processo de doença, seja ele agudo ou crônico, considerando não apenas aspectos técnicos voltados à doença, mas também questões sócio-culturais, psicológicas e espirituais relacionados ao processo de adoecimento e fim de vida. É notável que quando um paciente e sua rede de apoio são acolhidos por uma equipe multiprofissional em Cuidados Paliativos o processo de finitude e morte torna-se muito mais humanizado – dúvidas são esclarecidas, despedidas são organizadas, vontades e desejos são respeitados e há dignidade na morte”.

Evento em parceria 

Questionado se existem eventos ou atividades específicas programadas para o Dia Mundial de Cuidados Paliativos em sua região, o médico especialista informa que “há três anos, no mês de outubro, o Hospital e Maternidade Oase, vem realizando a Semana de Cuidados Paliativos. Neste ano, o evento irá acontecer em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde nos dias 16, 17, 18 e 19 de outubro, no Auditório do Hospital e Maternidade Oase e terá como tema: “A interdisciplinaridade na prática dos Cuidados Paliativos”. Serão realizadas atividades em caráter híbrido (presencial e remoto) a fim de conscientizar a população sobre a importância dos diferentes profissionais que participam do cuidado do paciente, principalmente na Atenção Primária em Saúde - no ano de 2023 foi aprovado na Conferência Municipal de Saúde de Timbó pautas referentes aos Cuidados Paliativos na Atenção Primária em Saúde, desta forma, o trabalho conjunto do Hospital e Secretaria de Saúde pauta-se na disseminação de conhecimento frente ao tema”. 

Histórias de vida  

O profissional que atua diretamente com familiares de pacientes que precisam de Cuidados Paliativos conta que são muitas as histórias inspiradoras ou exemplos de sucesso relacionados aos Cuidados Paliativos que podem ser compartilhados. “Histórias são muitas! São inúmeras as situações que já vivenciamos como equipe multiprofissional nesta jornada de três anos no Hospital e Maternidade Oase. Por vezes não nos atentamos a pequenas coisas que podem fazer uma diferença gigantesca nos momentos que antecedem a morte”.
O profissional aproveita para exemplificar uma situação que acredita resumir boa parte dos sentimentos vividos pela equipe. “Há pouco tempo tivemos um paciente idoso internado no Hospital, em fase final de vida, que tinha como seu melhor amigo seu cachorro... realizada conversa com familiares para identificar demandas e sofrimentos durante a fase final de vida, a filha nos pontuou que o “Kiko” (nome do cachorro) talvez fosse uma figura importante para o paciente e que talvez ele desejasse vê-lo. Questionado o paciente, ele já sonolento, porém, comunicativo, disse que gostaria de ver seu amigo. Organizamos o encontro no Hospital no mesmo dia... durante todo o período o paciente permaneceu acordado e interagindo com o “Kiko”. Encerrado o encontro, quatro horas após, o paciente evoluiu para morte. Alguns meses depois, reencontrei a filha do paciente, a qual me reconheceu e automaticamente falou: sou a filha do paciente X, do cachorro, não posso falar muito se não eu me emociono (palavras da filha)”. Sabemos que, por vezes, é difícil compreender qual a filosofia de quem trabalha com Cuidados Paliativos, mas, histórias tendem a traduzir conceitos de uma maneira mais prática e palpável. Resumo tudo isso em uma palavra: Humanização”.
Questionado de como as pessoas podem continuar a apoiar os Cuidados Paliativos após o Dia Mundial de Cuidados Paliativos, Henz observa que “primeiramente, divulgando e participando de ações e políticas públicas voltadas aos Cuidados Paliativos. Hoje, vivemos um momento ímpar no cenário nacional, o tema transita em Brasília após as Conferências Municipais em Saúde de 2023, o que reforça a necessidade e apoio da sociedade em cobrar direitos fundamentais em saúde, como exemplo, integralidade em saúde. Quanto maior for a conscientização da população e a “desmistificação” dos Cuidados Paliativos, maior será a probabilidade de nós, usuários em Saúde, sermos contemplados com um cuidado mais humanizado e digno diante de uma condição grave de saúde, seja esta nossa ou de algum familiar/amigo”.


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