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Cultura

A flor que 'ressoa' no Vale

  • Divulgação -

Presente em 32 dos 55 anos de emancipação de Ascurra, coral levou o nome do município aos quatro cantos

ASCURRA - O coral sobe ao palco, as vozes ressoam em formas e tons sem que haja qualquer tipo de sinal à frente do grupo. Cadê o maestro? Podem perguntar os curiosos. Mas não o perguntam os ascurrenses, pois estes sabem, o maestro está logo ali, comandando os teclados sem precisar gesticular de forma alguma para que as entradas, pausas e mudanças de tom aconteçam.

Assim o é por mais de 32 anos e incontáveis gerações de garotos e garotas que aprenderam muito mais do que canto, aprenderam algumas das mais valiosas lições de vida. O responsável pela "mágica" é padre Paulo Marconcini, fundador e maestro do Coral Flor do Vale de Ascurra. Nascido da proposta de trabalhar a música na paróquia, o conjunto de vozes transformou-se em uma das marcas da cidade e conseguiu levar o nome dela aos quatro cantos.

Antes de tudo é preciso conhecer o comandante deste projeto, que vê em sua habilidade musical um dom concedido por Deus. "Meu padrasto tocava violão e cantava muito bem. Comecei com a gaitinha de boca e tinha de cinco para seis anos quando ele percebeu que eu era capaz de tocar músicas inteiras com ela. Então tentou me ensinar violão, mas o instrumento era muito grande para uma criança daquela idade, então me deu um cavaquinho". Em seguida ele passou para o acordeom, mas precisou deixar de lado estes instrumentos quando entrou para o Seminário, já na cidade de Ascurra, onde só eram permitidos o piano e o órgão, os quais passou a dominar. Depois veio o teclado, pelo qual se encantou e tem sido sua paixão e instrumento de trabalho.

O teste para o início

Chegara o ano de 1986 e padre Paulo começou a trabalhar no Colégio Salesiano São Paulo de Ascurra. Lá, recebeu o pedido de que ajudasse com a música na comunidade, resolveu então formar um coral de crianças. Os testes foram realizados em fevereiro daquele ano, mais de 150 crianças apareceram, destas 50 foram selecionadas. A data oficial de fundação do Coral Flor do Vale é 13 de março de 1986. De lá para cá são cinco CD's gravados em estúdio, três deles de músicas italianas. Uma característica marcante que levou o grupo a ser convidado para apresentações em diversas cidades do estado. "Somente em Florianópolis foram 25 neste tempo, muitas delas em eventos ligados à educação. Estivemos também em diversas cidades, inclusive em eventos internacionais", relembra.

Italiano

Em meados de 1993, já como Pároco, uma tromba d'água atingiu o salão da Igreja Matriz Santo Ambrósio, de Ascurra. Exigindo que o local fosse reformado e reinaugurado. E foi durante esta ocasião que surgiu a ideia de que os integrantes cantassem algumas canções na língua italiana. O receptividade foi tanta que 1995 a Prefeitura de Ascurra pediu ao grupo que gravasse um CD de músicas italianas para ser lançado durante a Festa Per Tutti, o pedido foi aceito e naquele ano o coral entrou no estúdio pela primeira vez. Contudo não seria a última, ainda em 1995 o segundo trabalho foi gravado e seguiram-se outros três. Fora os produzidos pelo maestro fora dos estúdios convencionais.

Gerações marcadas

"Estive no coral por 17 anos, sou a integrante com maior tempo de permanência e posso dizer que o significado deste tempo reflete a base de uma vida, moldada pela essência de um conjunto harmonioso. Posso destacar diversos aprendizados, como a maturidade, a cultura e conhecimentos adquiridos dentro de um campo amplo de experiências, viagens e descobertas, como nas gravações dos cinco CDs", diz Jerusa Testoni, hoje com 33 anos.

Assim como ela, centenas de crianças e jovens ascurrenses aprenderam lições valiosas durante os ensaios, viagens e apresentações. "Para mim, aos nove anos de idade, foi a realização de um sonho, e depois de 10 anos fazendo parte do Coral, vejo o quanto ele foi responsável pela formação da minha personalidade e caráter", conta Bruna Frainer Xavier, hoje com 30 anos.

A contribuição para a formação do caráter também é destacada por Brunela Carla da Cruz, de 31 anos. "Foi uma infância maravilhosa, aprendemos que é preciso ter responsabilidade e dedicação com o que se gosta desde cedo. Foram quase 10 anos de muita felicidade". Para finalizar, as ex-integrantes destacam as amizades formadas e que perduram através dos anos. Dedicação e homenagem  

Uma das memória mais marcantes de todos estes anos foi a participação no programa Em Nome do Amor, do canal SBT. Homenageando a história de padre Paulo à frente do grupo antes de sua partida para a cidade de Itajaí. "Por parte da comunidade, esta foi uma das coisas mais bonitas que já fizeram para mim", relembra.

Esta não é a primeira vez que ele enfrenta o desafio de seguir com o grupo. Durante os sete anos em que foi transferido para trabalhar em Itajaí, dispunha-se a viajar para Ascurra duas vezes por semana para os ensaios, nas contas dele, 432 viagens no total. "Muitas pessoas ajudaram neste tempo, algumas ainda ajudam. No entanto este número diminui significativamente. Precisamos nos reanimar", conclui.

Para não permitir que acabe

Atualmente o Coral Flor do Vale conta com 14 integrantes, bem abaixo do número ideal, que seria de 30. Como muitos grupos culturais, sofre com a mudança de interesse da juventude, mais ligada à tecnologia. Porém, este não é o principal obstáculo enfrentado. "As crianças gostam de cantar, inclusive em italiano, mas elas dependem dos pais e é justamente neste momento que notamos um desinteresse. É uma pena, porque pode acabar", confidencia padre Paulo.

Incansável em seu amor pela música e pelo próprio Coral, o maestro não dá sinais de desistência, muito pelo contrário, convida as crianças que quiserem experimentar a experiência de fazer parte do grupo para entrarem em contato através do fone/WhatsApp: (47) 99607-6159.

No dia 7 de abri, Ascurra completa 55 anos de emancipação, e através desta homenagem à história do Coral Flor do Vale, queremos parabenizar a riqueza cultural, a força de trabalho e a alegria de todos os ascurrenses.


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