Sertanejo: a trilha sonora de uma vida

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Amanda Bittencourt -
Com mais de 50 anos de música, Mario Demetrio aprendeu as primeiras notas só observando instrumentistas
INDAIAL - "Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz". Esse é um verso da música Tocando em Frente, do cantor e compositor Almir Sater, que é o grande inspirador de Mario Demetrio, um músico de Indaial o qual tivemos a oportunidade de conhecer um pouquinho dos seus mais de 50 anos de trabalhos com a música. Essa reportagem também é uma homenagem do Jornal O Indaialense a todos os cantores, compositores e instrumentistas da nossa região, que comemoram o Dia do Músico no dia 22 de novembro.
Seu Demetrio, que já possui seus 74 anos muito bem vividos, segundo ele, começou a se interessar pela música desde pequeno, ainda mais que na época era bem mais difícil ver um conjunto (as bandas da época eram conhecidas como conjuntos) ao vivo. "Desde criança eu gosto de música e naquele tempo, lá de vez enquanto, a gente ia a festas da igreja e vinham os músicos tocar e ficava admirado, olhando" relembra Demétrio dos seus tempos de menino.
O músico nasceu em uma comunidade perto de Ascurra, e anos mais tarde se mudou para o Warnow, em Indaial. Na sua adolescência, deu um jeito de conseguir um violão e começou a olhar os músicos e foi tomando gosto pela música. Seu pai sempre gostava de o ver tocando e por incentivo de um barbeiro da cidade, o pai de Demetrio deixou ele pegar alguns ensinamentos com o cabeleireiro. "Então um dia ele passou lá por casa e me ensinou algumas coisinhas e eu já peguei da noite pro dia, bem rapidinho", destaca o músico.
E então, entre seus 15 e 17 anos, Demetrio, um irmão e um amigo, decidiram formar um trio e que o repertório era composto de quatro músicas, que se repetiam a noite toda. "Um tocava acordeom, eu violão, e meu irmão arrumou um pedaço de lata e fez tipo um pandeiro, na época era o que tínhamos. Nós íamos tocar nas casas nos aniversários das pessoas e muitos diziam: - Olha lá, os filhos do seu Demetrio tocando tão bonito", lembra Demetrio.
Primeiros passos da carreira
Quando completou 18 anos, seguiu para o exército e fez um amigo lá que tocava acordeom e então surgiu uma dupla caipira. "Nós começamos a tocar e a ensaiar e o nome dessa dupla era Zé do Pinho e Pinheirinho, e na época, tínhamos as músicas todas decoradas, não tinha partituras como tem hoje", diz o músico.
Um parque de diversões chegou na cidade de Indaial e a dupla conheceu o dono deste parque, que os convidou para se apresentarem. Resultado, Zé do Pinho e Pinheirinho começaram a trabalhar no parque durante o dia e à noite faziam um pequeno show, que estava sempre lotado nos fins de semana. "Depois nós seguimos junto com o parque para Timbó, Jaraguá, Pomerode, Blumenau, Lontras, e assim ficamos um ano viajando. E quando parávamos nas cidades, visitávamos várias rádios para fazer uma apresentação da dupla, para ver se engrenava, mas não deu muito certo e depois disso decidimos parar", conta o músico.
Logo depois, Demetrio conheceu uma pessoa que tocava em um conjunto e que havia visto uma de suas apresentações no parque de diversões e o elogiou dizendo que ele tocava muito bem violão e que se fosse para um conjunto musical, se sairia muito bem.
Por meio do incentivo, o músico entrou para o conjunto musical Sianara, no qual ficou durante 16 anos. Nesse tempo, ele se casou com a falecida esposa e tiveram três filhos. Logo o casal se mudou para uma casa perto do centro de Indaial, onde mora até hoje.
Diversas atividades
Após ter ser mudado, Demetrio recebeu um convite do diretor de um colégio e também advogado, Mário Bonessi, para tocar no coral infantil da escola. Também começou a ter algumas aulas de música com um maestro de Blumenau. "Assim aprendi um pouco de partitura e arranjo, porque antes eu só sabia tocar do meu jeito e vendo os outros tocarem" afirma o músico.
Na época, ele já havia saído do conjunto Sianara e entrou para os Clarins de Prata, no qual tocou por 20 anos, participando por sete vezes da Oktoberfest em Assunção, no Paraguai.
Neste mesmo período, começou a trabalhar na Prefeitura de Indaial como professor de música, entrou para a Orquestra Municipal na qual está até hoje. Montou também um coral na Igreja Matriz Santa Inês, que já tem 20 anos.
Atualmente, Demetrio também ministra aulas de violão, acordeom, teclado e viola em sua residência. O músico faz parte do Terno de Reis Estrela do Oriente e o grupo já gravou um CD com duas composições de Mario Demetrio.
Viola Caipira
O Grupo de Viola Caipira de Indaial, existe desde 2011, e tem por objetivo a preservação da cultura da música caipira raiz. Há três anos, o grupo gravou um CD e um DVD, com diversas canções, dentre elas Chico Mineiro da dupla Tonico & Tinoco e O Menino da Porteira de Sérgio Reis. O grupo vem se apresentando em diversas cidades da região.
Sabem quem foi o fundador desde grupo? Sim, ele, o seu Mario Demetrio. "Eu assisti um concerto de viola e me interessei pelo instrumento, pensei comigo eu tenho que fazer isso também. Então conversei com alguns ex-alunos meus que dei aula de violão popular e o pessoal já aceitou na hora. Mas ninguém tinha viola e ninguém sabia tocar viola. Então, cada um deu um jeito de adquirir uma viola e aprendemos.Eu pedi algumas dicas com o mestre de viola caipira de São Paulo e assim foi indo. E estamos até hoje", completa Demetrio com muito orgulho.
Seu Demetrio contra que recebeu vários certificados de eventos, medalhas e em 2017, no 1º Festival de Música Caipira realizado em Indaial, recebeu um troféu, em forma de viola de ouro, entregue por Alex Marli Dias, filha do cantor e compósito Tião Carreiro, em homenagem aos seus anos de dedicação à música e à cidade de Indaial.
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