Os perigos de um hábito

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Janaina Possamai - Comum entre os jovens, narguilé pode causar diversas doenças
Consumo de narguilé se prolifera entre os jovens e traz riscos à saúde
INDAIAL - Tudo começou após conhecer a Narguilé assistindo a uma novela, Caminho das Índias, a curiosidade despertada se tornou ainda mais forte após uma viagem a Balneário Camboriú, quando viu alguém fumando o interessante cachimbo d'água pela primeira vez. Os passos seguintes foram comprar uma narguilé e se reunir com a turma de amigos para fumar diariamente.
E lá se vão quase nove anos, quem nos conta a experiência é um jovem de 28 anos. "Não era como hoje, não se via muitas pessoas fumando narguilé da forma como é hoje", explica. Segundo ele, os amigos se reuniam após as aulas ou durante o horário de almoço na casa de um deles para fumar, pois o hábito era envolto em cerca vergonha, já que não era tão comum. "Hoje tem narguilé em qualquer lugar que você vá".
O jovem diz que o hábito de fumar traz uma sensação de relaxamento, quase como um processo para aliviar o stress do dia a dia. Apesar de preferir fumar em grupo, atualmente ele faz disso um hábito praticamente diário. "Se fumo em casa, sozinho, fico no máximo uns 20 minutos. Se estou com os amigos, vamos conversando e o tempo passa, ficamos por bem mais tempo".
Outro fator impulsionado pelo consumo, é a facilidade de conseguir os produtos. "Antes você tinha que ir para Blumenau buscar ou então comprar via internet, agora em todo lugar há uma tabacaria".
Quando começou a fumar narguilé, a informação que tinha era de que não trazia tantos malefícios, pois a fumaça passava por um filtro de água, porém, o Ministério da Saúde já apresentou estudos apontando o contrário. "Hoje em dia é como o cigarro ou a bebida, todos sabem que faz mal, mas usam mesmo assim", declara. Ele diz que não pensa em parar, nem se sente preocupado com a saúde. "Faço exercícios todos os dias e me alimento da forma correta", argumenta. O jovem diz ainda que é capaz de ficar dias sem fumar, caso esteja viajando, mas se o tempo de ausência for grande, a Narguilé segue junto na mala.
Os números
Também conhecido como cachimbo d'água, shisha ou hookah, o narguilé é um dispositivo no qual o tabaco é aquecido e a fumaça gerada passa por um filtro de água antes de ser aspirada pelo fumante, por meio de uma mangueira. Por utilizar mecanismos de filtragem, o consumo de narguilé é considerado erroneamente menos nocivo à saúde pela população.
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde (MS), através da Pesquisa Nacional da Saúde (PNS) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, 212 mil pessoas têm o hábito de fumar narguilé, 63% delas têm entre 18 e 29 anos.
Já pesquisar do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que além de incluir 4,7 mil substâncias tóxicas presentes no cigarro comum, possui concentrações superiores de nicotina, monóxido de carbono, metais pesados e substâncias cancerígenas.
Ação
A Unidade de Saúde Marcia Maria Andreatta, localizada no bairro Estados, desempenha diversas ações com os usuários dessa comunidade. Neste ano, ao observar que algumas crianças do bairro vêm utilizando de forma imprópria o narguilé, a unidade decidiu promover uma ação para conscientizar esse público sobre os malefícios provocados no organismo.
Em parceria com a Polícia Militar, que desenvolve o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), uma palestra foi realizada nas dependências da unidade. Além das crianças, estiveram presentes alguns idosos, já que eles também possuem muitas dúvidas sobre o consumo do narguilé pelos filhos e netos. Cerca de 35 usuários participaram. O evento contou ainda com a presença do secretário da Educação, Ozinil Martins de Souza.
A ação foi realizada de forma clara, interativa e dinâmica, usando uma linguagem simples com os participantes. O policial que participa do Proerd, Daniel Bambinetti, e o enfermeiro da unidade, Pedro Propodolski, explanaram que o uso de narguilé está associado ao desenvolvimento de câncer de pulmão, doenças respiratórias, doença periodontal (da gengiva), câncer de língua e bebês com baixo peso ao nascer, além de expor seus usuários em altas doses de nicotina em uma concentração que causa dependência.
Os profissionais ainda explicaram que após 45 minutos de sessão o narguilé aumenta os batimentos cardíacos e a concentração de monóxido de carbono expirado no fumante. Também ocorre mais exposição a metais pesados, altamente tóxicos e de difícil eliminação, como o cádmio. Porém os riscos do uso do narguilé não estão somente relacionados ao tabaco, mas também a doenças infectocontagiosas: compartilhar o bocal entre os usuários pode resultar na transmissão de doenças como herpes, hepatite C e tuberculose.
Após a palestra as agentes de saúde da unidade, Malvina Juliane Ribeiro e Maria Terezinha Batista, organizadoras da ação, promoveram uma gincana entre idosos e crianças com o tema combate às drogas.
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