Mãos na terra e olhos no mercado

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Janaina Possamai -
Agricultor de Indaial inova e busca parcerias para diminuir custos e aumentar a qualidade
INDAIAL - Os pés de morango estão carregados de flores e frutos ainda verdes, mas ao caminhar no meio dos canteiros, vez ou outra uma grata surpresa avermelhada surge entre os tons esverdeados. "Pode experimentar, é bem docinho. E pode comer sem susto porque não tem veneno", diz Flávio de Souza, agricultor indaialense de 48 anos.
Ciente da necessidade de acompanhar as mudanças do mercado, Flávio diversificou a oferta de produtos produzidos por ele, a esposa e um colaborador. "Iniciamos com mudas de eucalipto e ainda vendemos elas, mas plantamos também morango, alface, agrião, aipim e mudas de palmeira", conta.
A modalidade de plantio utilizada na propriedade é a hidropônica, com produtos ecológicos para evitar ao máximo qualquer tipo de agrotóxico ou produtos químicos. "A única coisa que ainda utilizamos nessa modalidade é o fertilizante, mas já está sendo testado um biofertilizante que pretendemos aplicar em parte da nossa plantação para apurar a qualidade". Assim como a busca por produtos naturais, truques para evitar as pragas e diversificação da produção, Flávio investe na inovação e na parceria para diminuir custos e ampliar a qualidade.
Prova disso é que ele e mais dois agricultores indaialenses estão custeando uma máquina que possibilitará a construção de estufas, vital para o maior controle sobre a produção, porém com custo elevado de investimento. "A máquina é para entortar os canos e assim poderemos construir nós mesmos, fazendo com que o preço caia drasticamente".
Durante a conversa, um dos parceiros na construção da máquina, Mário Franz, de 50 anos, chega à propriedade para trocar ideias com Flávio. Mário conta que trabalhou a vida toda no campo e conhece bem os desafios da profissão. Segundo ele, o maior problema para os agricultores é o retorno recebido pela produção. "O preço das hortaliças cai, enquanto todos os insumos que nós precisamos utilizar aumentam. Já cheguei a vender um pé de alface por R$ 1,50, hoje estão pagando mais ou menos R$0,80, mas o que nós gastamos para cultivar não acompanhou esta queda, pelo contrário, só teve elevação no preço, a conta não fecha", explica o agricultor.
Para ambos, falta incentivo aos agricultores. "Talvez seja necessário que se estimule a compra de produtos da própria região. Assim incentiva quem produz e também se leva para as mesas um produto de qualidade", pondera Flávio.
Os dois agricultores também partilham outra preocupação, o futuro das atividades no campo. Ambos tem filhas, no entanto elas optaram por não seguir a profissão dos pais. "Dá para contar nos dedos o número de jovens trabalhando no campo. Quando a nossa geração já não puder mais produzir, como será? Vejo que isso acontece muito em função da falta de incentivo, o governo até oferece financiamento, mas nós só temos retorno aos poucos, como vamos contrair uma dívida?", argumenta Mário. "Nós recebemos em centavos", completa Flávio.
A vida no campo
Apesar dos desafios diários e das longas jornadas de trabalho, Flávio optou pela profissão de agricultor em busca de qualidade de vida. Acostumado a acompanhar o pai nas atividades da roça desde cedo, lá pelos 20 e poucos decidiu trabalhar em outro ramo, o têxtil. Uma década depois voltou para o campo. "Aqui se trabalha muito mais, tem dias que começo antes das seis da manhã e vou até sete da noite, mas quando deito na cama durmo descansado. Quando trabalhava na indústria era diferente, ficava lá só oito horas por dia, mas por conta do estresse, não conseguia dormir à noite. Era um ciclo que me fez querer voltar e não me arrependo em momento algum, pois trabalho com o que gosto".
Inovação
A propriedade de Flávio, localizada no bairro Estrada das Areias, impressiona pela beleza dos canteiros suspensos de alface e morango, que ocupam grande parte do espaço. No entanto, uma pequena visita revela a plantação de mais hortaliças, outras plantas e a presença de animais. Durante o pequeno tour, Flávio explica as técnica que adaptou para melhorar a qualidade e produtividade. Desde o plástico utilizado para inibir o crescimento do mato, as cascas de ovos dispostas em varetas para afastar as lagartas, os pequenos canos d'água que atravessam os canteiros e a beleza das raízes limpinhas possibilitadas pela hidroponia.
Flávio está sempre buscando conhecimento, seja com relação à técnicas de plantio ou mudanças no mercado. "Nós vamos a feiras, estamos sempre em contato com a Epagri e com a Secretaria de Agricultura. Quando decidimos plantar morangos no início do ano, pesquisamos o mercado da região comvisitas a Ituporanga, Itajaí e fomos buscar em Farroupilha as mudas de morango com uma qualidade diferenciada". Estas mudas a que se refere Flávio certamente são um grande diferencial, das quatro modalidades do fruto disponíveis na propriedade, esta é a mais doce e macia, um deleite para os amantes da fruta.
Atualmente, a propriedade de Flávio produz uma média de sete a oito mil pés de alface por mês. Já com relação aos morangos é preciso aguardar, pois é um produto novo. O agricultor explica que estão plantados 2,2 mil pés e que a estimativa é a de chegar a dois mil quilos no total da colheita. Para quem ficou interessado em experimentar o fruto produzido lá, uma boa notícia, Flávio vende os morangos diretamente ao consumidor, e olha que já tem gente na fila.
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