As dificuldades e êxitos da inclusão no mercado de trabalho
INDAIAL - A jovem de 24 anos transita com habilidade pelos corredores entre os caixas, ela não possuiu um terminal adaptado, não por falta de iniciativa da empresa contratante, mas porque não precisa e não quer. Joseane Monique Padilha de Souza, 24 anos, é cadeirante e trabalha há cinco anos na Cooper, seu primeiro e duradouro emprego. Quando fala da adaptação às funções e à equipe, exibe tranquilidade ao afirmar que foi tudo normal.
A decisão de entrar para o mercado de trabalho foi dela, porém amplamente apoiada pela família. Hoje, mãe de uma menina de oito meses, dá uma dica a quem, em situação semelhante, tem receio de dar um passo adiante. "É deixar o medo de lado, preconceito vai existir, dificuldade também, mas tem que encarar. As pessoas olham para você, tem que fingir que nada está acontecendo e seguir em frente". Joseane ressalta que o processo de aceitação de cada pessoa é diferente, então é preciso respeitar as individualidades. Sobre os olhares, complementa: "Não existe mais a questão do "coitado", os olhares atualmente são de admiração".
Inclusão de fato
A jovem integra o grupo de funcionários da Cooper Indaial Nações, a loja possui outras seis pessoas no quadro de Pessoas com Deficiência (PCDs). Quando somado ao quadro da filial do Centro, com mais 12 PCDs, a Cooperativa possui, em Indaial, 19 pessoas que se encaixam nesta condição. De acordo com os gerentes das duas lojas, Edna Verdi (Nações) e Ronei Luis Grasel (Centro), a adaptação destes funcionários foi natural. "Em primeiro lugar, possuímos esta proposta de cooperação e contribuição com a comunidade em nosso DNA. Assim também, todos os nossos supervisores estão preparados para inserir estas pessoas na equipe, tanto que atualmente não possuímos um quadro específico de PCD, eles compõe quadro normal", explica Edna.
Quanto à produtividade, a gerência reconhece ser preciso um olhar mais apurado no momento de destinar cada um deles para determinado setor. A partir daí, eles possuem um tempo de adaptação e são cobrados, tal qual os demais funcionários, para que produzam. "Lógico que nós reconhecemos as particularidades, mas a inclusão de fato passa por isso", complementa Edna. Os gerentes afirmam que a experiência é ótima. "Para mim foi um processo bastante fácil, pois sempre olhei a todos com os mesmos olhos. Além disso, eles integraram muito bem a equipe", ressalta Ronei.
Incentivo à integração
Os exemplos de inclusão não se limitam à deficiência física, dentro das duas lojas há funcionários com deficiência intelectual, visual, motora e Síndrome de Down. "Temos aqui o Andrei que é surdo, no começo a comunicação com ele era feita através da escrita. Posteriormente, alguns dos nossos colaboradores fizeram um curso de libras, assim, podemos oferecer mais integração a ele e outros funcionários que venham a ter a mesma condição", diz Edna.
Ventos da mudança
O Brasil possui, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45 milhões de Pessoas com Deficiência, ou seja 24% da população. Destas, apenas 0,9% compõe o quatro total de contratados com carteira assinada. Apesar de parecer desanimador, há uma boa notícia nestes números. Segundo dados de 2016 do Ministério do Trabalho, 418,5 mil PCDs estavam empregadas no Brasil, número 3,8% maior do que o registrado em 2015.
Enfrentando dificuldades
Luciana de Oliveira Mattos, 30 anos, também trabalha na Cooper. Ela possui deficiência intelectual, mas, muito mais do que isso, formou uma visão muito firme sobre o enfrentamento desta condição. "Eu falo para as pessoas que têm esses problemas que a gente tem que encarar de frente e não ficar com aquele medo. Meter a cara e enfrentar. Mesmo que tenha preconceito, enfrenta! Porque a gente é igual a todo mundo", ensina. Luciana revela que foi ela mesma quem manifestou à família a vontade de começar a trabalhar. Encontrou apoio e incentivo para seguir em frente. A coragem se transformou em competência e ela está no atual emprego há quatro anos.
Família
O apoio dos familiares de Joseane e Luciana foi vital para que elas ingressassem na vida profissional, nem sempre é assim. A assistente social da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Angel Bawlack, explica que a grande maioria dos pais de alunos é superprotetora. Pois, devido à deficiência, enxergam os filhos como eternas crianças.
Há também a questão do recebimento do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC), destinado à pessoas com deficiência. "A lei, atualmente, permite que o benefício fique suspenso temporariamente por até dois anos, como se fosse um período de experiência". Caso não se adapte ao mercado de trabalho neste período, basta solicitar a reativação do BPC sem precisar passar pelo processo de requerimento ou de avaliação da deficiência e do grau de impedimento pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Além disso, nas modalidade de contratação como Menor Aprendiz e estágio, não há suspensão do benefício.
Angel explica que a Apae de Indaial possuía uma sala de inicialização ao mercado de trabalho, que trabalhava questão simples do dia a dia com os alunos, a fim de prepará-los para esta experiência. A sala foi desativada, mas existem diversas atividades dentro da instituição que incentivam o exercício de atividades cotidianas. Para Angel, o trabalho em conjunto com as famílias é fundamental, pois as habilidades e os medos de ambas as partes precisam ser trabalhados para que a oferta de inclusão e cidadania sejam os mais genuínos o possível. "Dos 140 alunos matriculados atualmente, creio que ao menos 20 deles têm capacidades que, se treinadas, possibilitem a entrada no mercado de trabalho", considera.
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