Da pesquisa histórica à inovação, escultor indaialense apresenta peças exclusivas e repletas de detalhes
INDAIAL - Para chegar ao ateliê de Jörg Nietsche e sua esposa Vera é preciso deixar para trás o barulho dos carros, a agitação da cidade e, até mesmo, o sinal de celular. Para quem não conhece aquele pedacinho de Indaial, no bairro Warnow, parece impossível não se perder, mas tudo bem, pois, ao fim do caminho a recompensa é vislumbrar trabalhos minuciosos e de profundo esmero.
Jörg fez do vidro matéria-prima, do local onde mora uma inspiração e da arte sua profissão. Arte, aliás, para ele tem um conceito diferenciado. "O que é arte?", questiona. Logo em seguida complementa: "para mim, qualquer pessoa que faz bem aquilo que escolheu como profissão é um artista, um bom agricultor é artista, um bom médico é artista e assim por diante".
Com esta definição em mente, Jörg busca o novo com os olhos voltados ao tradicional. Para elaborar seus trabalhos, pesquisa técnicas utilizadas para moldar o vidro há mais de dois séculos na Europa. "Há técnicas de lapidação e inserções artísticas que estão se perdendo, principalmente porque atualmente o apelo é pela produção em massa. Então, tudo que é demorado acaba sendo descartado".
O escultor explica que tão logo uma técnica é absorvida pela industrialização, busca uma nova para oferecer exclusividade aos clientes que lhe procuram. "Não temos como competir com uma grande indústria, então fugimos do lugar comum para fazer aquilo que mais ninguém faz".
Inspiração no passado
No ateliê do escultor as ferramentas utilizadas são antigas. "Esta máquina estava no ferro velho", mostra. Em seguida apresenta os rebolos utilizados e conta que alguns deles possuem 100 anos de história. Jörg conta que além da pesquisa histórica a criatividade é indispensável. "Muitas vezes os clientes já trazem um esboço do que querem, a partir daínos criamos a peça que será entregue. Em outros momentos criamos a partir do zero. Aceito fazer até cinco peças iguais, mas a verdade é que isso nunca aconteceu. Todos saem daqui com peças exclusivas.
Diversificação
Os trabalhos de Jörg vão desde esculturas, lapidação de espelhos, vitros para portas nas técnicas da incisão artística, jateamento artístico, gravações com ponta diamantada até restaurações. Essa diversificação é o que garante a ele a possibilidade do sustento através deste trabalho.
Quanto às esculturas em si, conta que começa a criar do nada. "Muitas vezes começo e nem sei qual rumo irei tomar. As esculturas exigem tempo, tenho várias ideias para colocar em prática, mas não há tempo para tudo", confidencia. Além do vidro, algumas peças produzidas por ele possuem madeira de demolição, representando a transição do antigo para o moderno.
Jörg elogia o tratamento que a cidade oferece aos artistas, com oportunidade de exposição e reconhecimento. No entanto, explica ser necessário levar o trabalho aos grandes centros. "Indaial é um ótimo lugar para produzir, mas aqui o consumo é equiparado à população, então é preciso buscar as grandes cidades para conseguir maior visibilidade e comercialização".
O talento se espalha pela família
A companheira de trabalho é também a companheira de vida. Vera, assim como o marido, é uma talentosa artista. Os desenhos feitos por ela possuem detalhes precisos, tanto que é difícil diferenciá-los de uma fotografia. Vera conta que prefere trabalhar com o preto e branco em tamanho A3, exceto por momentos em que adiciona cores para simbolizar algo especial, como a passagem da primavera. Os trabalhos prediletos são releituras de obras acadêmicas.
O início
Jörg iniciou como aprendiz de lapidação na "Fábrica de Cristais Hering", em 1986. Imediatamente se apaixonou pela atividade. Trabalhou ainda em outras duas empresas do segmento até que resolveu montar seu próprio ateliê, pelos idos de 2000. "Foi quando a paixão pelo vidro plano e suas inúmeras possibilidades de matéria, deram rumo ao nosso desejo de arte".
Daí por diante características como luz, transparência, solidez, durabilidade, beleza e leveza foram os pontos centrais para a exploração de temas diversos; objetivos e subjetivos através das esculturas. "A paixão incomodava os dedos e surgiram os trabalhos em vidro plano lapidado compondo vitrôs para portas nas técnicas da incisão artística, jateamento artístico, gravações com ponta diamantada. Assim, movidos pela paixão seguimos com o objetivo de produzir e preservar o belo e encontrar os afins", define.
Deixe seu comentário